Nascemos em 1986, pelo menos esse é o ano do nosso primeiro show no colégio Santo Agostinho, perto do metrô Vergueiro em São Paulo. Porem nosso primeiro disco só foi gravado em 1994. O que pouca gente sabe é que entre essas duas datas nós gravamos oito músicas em um estúdio bacana e com produtor. Esse seria nosso primeiro LP que nunca saiu. Nunca saiu porque era ruim à beça. A temática das músicas eram mais sociais e com cunho político, de um jeito panfletário ruim. O Paulão era muito fã do primeiro álbum do Legião Urbana e tentava escrever como o Renato Russo, só que não dava certo. Apesar disso a gente insistia em dois erros: Tocar mal e ter uma formação que não jogava junto.

Entre as músicas que a gente gravou, uma foi o nosso grande "sucesso", uma balada chamada Cynthia. Era a única canção no show que as pessoas prestavam um pouco de atenção. A gente não tinha muita sintonia no palco, eu não me entendia com o vocalista, irmão do Paulão. Mesmo assim gravamos as músicas e como não aconteceu nada, nenhuma gravadora se interessou, nenhuma rádio tocou a demo, enfim, nem melhorou nossos shows. Todas essas coisas podiam ter terminado com a banda e seguiríamos nossos caminhos, mas a teimosia falava mais alto!

A formação na época era Celso nos vocais, Paulão no baixo, Rick na batera e eu na guitarra. Tirando o irmão do Paulão que na época já era formado e ganhava bem como dentista, nós três éramos nerds, completamente duros. Paulão tinha acabado de se formar e era estagiário, o Rick estava acabando engenharia e eu, mais novo, estava no começo da faculdade de Comunicação e Arte. Acho que essa diferença de geração também aumentava o meu distanciamento do nosso, então vocalista.

Mas tenho que ser justo, foi o Celso que viabilizou toda essa gravação. Ele trocou o que a gente ia gastar por tratamento dentário do produtor e do irmão dele. Assim conseguimos um belo estúdio, bons momentos e uma coleção de músicas mais ou menos.

Depois, já sem o Celso e o Rick, seguimos fazendo demos ruins de boas músicas o final dos anos 80. No comecinho dos anos 90 a banda tinha fixado uma formação com Lips na bateria e Fabiano Pimenta na guitarra. Melhoramos, mais shows, porém continuava a síndrome da demo ruim. A gente não conseguia passar no estúdio a mesma vibração do show ao vivo. Tudo muda com a chegada de Caio Andrade. Mas esse é assunto para o primeiro disco.