A HISTÓRIA POR TRÁS DOS DISCOS - FOI BOM PRA VOCÊ (1993/1996)
Data: 12 de Junho de 2020
Autor: Alexandre Cavalo Dias
A HISTÓRIA POR TRÁS DO DISCO - FOI BOM PRA VOCÊ (1993/1996)

Em 1993 a Banda das Velhas Virgens (sim, esse era o nome completo), era formada por Paulão de Carvalho, Alexandre Cavalo Dias, Lips Like Sugar e Caio Andrade.

Ensaiamos um bocado na casa do Lips, onde montamos um estúdio de ensaio improvisado, em Guarulhos, na grande São Paulo. Juntamos a grana pra pagar um estúdio profissional e um produtor. O Caio não participou do rateio. Ele era o mais novo e ainda não tinha condições de nos ajudar. A ideia era ir abatendo esses valores de acordo com os shows. Isso aconteceu parcialmente, o Paulão ainda deve ter as contas do quanto a banda ficou devendo pra cada um de nós.

A escolha do produtor recaiu sobre um novato: Paulo Anhaia só tinha feito uma demo legal para o Party Up (que depois viria a se chamar Toy Shop). Ele era um cara interessante, confiável e com ótimo ouvido, apesar da pouca experiência. E o melhor de tudo, era o que a gente podia pagar. Fechamos o pacote com ele e o estúdio 43 na Zona Norte e fomos gravar.

A música que a gente fazia e ainda faz, é um rock reto, meio punk, misturado com pitadas de blues. Olhando hoje, com a experiência de outras tantas gravações, considero aquela uma das mais tranquilas que tive. A gente vinha tocando as músicas que entraram no disco havia algum tempo. Entramos no estúdio com nenhuma experiência (só demos ruins do passado), mas muita vontade e esperança. Quando uma banda entra pra fazer um disco ela tem que acreditar demais no trabalho, caso contrário não vale a pena fazer.

Convidamos alguns artistas que a gente era muito fã pra participar. A Rita Lee mandou um fax com palavras muito gentis que acabaram no encarte do CD.

Marcelo Nova e Edu Araújo toparam a parada. Marcelo fez um pouco de doce, mas depois a gente criaria uma amizade que permanece até hoje. Um cara foda e uma participação inesquecível. Edu Araújo cantou a música com uma garra que o Paulão teve que voltar e fazer a parte dele de novo.

Outro convidado também muito especial foi o Oswaldo "Rock" Vecchione do Made In Brazil que cantou "Minha Vida é o Rock"n"roll", música que é dele, mas que por muito tempo as pessoas acharam que era nossa. O Pit Passarel do Viper, muito nosso amigo, cantou e encantou em "Excesso de Quórum". Carlinhos Anhaia, um puta guitarrista irmão do Paulo Anhaia, participou tocando em "E o que é que a gente quer?", Tatu e Marcinho Alves, ambos da banda contemporânea das Velhas, chamada Anjos dos Becos também participaram.

Tudo correu com relativa tranquilidade, um ou outro problema na produção que foi resolvido. A grana desse disco ajudou a pagar o parto do filho do Paulo Anhaia. Podemos nos considerar padrinhos desse rapaz!

 

Os problemas realmente começaram quando a gente caiu na armadilha de fechar com uma pequena gravadora do sul que se chamava Prize Records e cujo dono era um vigarista incorrigível. Ele conseguiu colocar 3 páginas de lançamento na extinta revista Bizz, música tocando na 89 e outdoors pela cidade. Tudo isso sem desembolsar um tostão sequer. Só esqueceu-se de um detalhe. Nenhuma fábrica de CD liberaria o produto sem o devido pagamento.  Foi nesse ponto que seu plano começou a desmontar. Com toda a divulgação rolando e sem disco pra lançar não havia como ter dinheiro pra pagar os muitos rolos que ele vinha fazendo.

No final Paulão e eu juntamos grana e conseguimos liberar os discos com a ajuda de um amigo na fábrica de CDs e, contando com mil garantias, o disco foi pra praça, atrasado quase 1 ano. Eram 11 mil CDs e 2 mil fitas K7.

O resultado foi desastroso pra nós. Ficamos presos por contrato durante dois longos anos com o canalha. A revista e a rádio acharam que quem estava devendo era a gente. Ganhamos uma injusta fama de caloteiros. Foi um inferno. Quase acabamos com a banda. Eram tantos problemas, cobranças e a gente ainda tinha que tocar o barco, fazer shows se quisesse manter a lance da música vivo.

Foi um começo bem difícil. Uma prova de fogo que espero nunca mais ter que passar. Hoje e não teria saúde pra encarar outra roubada igual aquela. Dentro da banda encontramos apoio e foi essa amizade que nos guiou em frente. Apesar do caos, das dívidas, todos os problemas deixaram a banda viva no cenário do rock efervescente de São Paulo. Começamos a nos profissionalizar.

Em 1998 montei a Gabaju Records, gravadora só pra fazer as coisas das Velhas e relancei o primeiro CD que estava esgotado. Ele ficou no catálogo por quase 20 anos e agora está no digital em todas as plataformas.

As duas garrafinhas são uma criação coletiva, mas quem deu a forma final foi o Alexandre Montandon, bem como as fotos do encarte. Durante anos a ilustração era mais conhecida do que a banda!