Para falar desse disco eu preciso voltar um dia antes de entrarmos em estúdio, quando fizemos um show junto com Raimundos em Guarulhos em homenagem aos Mamonas que tinham acabado de sofrer o acidente fatal. Resumindo, o Paulão tomou todas e entrou muito louco, derrubou o amplificador dos Raimundos, não conseguiu fazer o show e ainda caiu de um palco alto duas vezes. A plateia adorou, mas a 89 FM que estava fazendo o evento não gostou nada daquilo. A gente já tinha criado o maior caso por conta da outra gravadora que deu calotes mil e com mais essa, nossa música "Só pra te comer" que estava na rádio foi cancelada.
No outro dia tive que ir buscar o Paulão no apartamento dele. Não conseguia nem colocar a cueca de tão dolorido que estava. No dia anterior, movido a álcool, Paulão não sentiu os danos das quedas do palco, só que no outro dia ele estava cheio de hematomas. Com corpo tão dolorido que não dava pra se mexer.
Entramos no New Estúdio em maio de 1996 com muitas músicas, um vocalista arrebentado e nenhum dinheiro no bolso. Era um estúdio bem confortável na Av Indianópolis em São Paulo cujo dono era ninguém menos que Luiz De Boni, tecladista dO Terço, banda progressiva que começou em 1968 e ainda está na ativa.
Apesar de todas as confusões, conseguimos nos livrar da antiga gravadora e assinar com um selo novo da Gravadora Velas que se chamava Primal. A Velas era uma sociedade de Ivan Lins e Vitor Martins. A Primal era o selo para o rock e quem cuidava era o filho do Vitor, Rodrigo Martins. Eles bancariam o nosso novo trabalho. Se dependesse da gente não dava pra fazer nada naquele momento.
Dava pra escrever um livro com os momentos que passamos naquele estúdio. Tirando o primeiro dia em que o Paulão estava em péssimo estado, o restante da gravação foi sensacional e teve um final tenso que me causa desconforto quando eu ouço a versão final do disco até hoje.
O Paulo Anhaia comandava de novo a produção. A gente já sabia como ele trabalhava e ele sabia o que podia esperar da banda.
Excetuando o Caio Andrade, que se desenvolvia rapidamente na guitarra, não tinha nenhum músico muito bom. O que a gente tinha era um punhado de boas canções. A banda nessa época era Paulão na voz gaita e saxofone, Caio nas guitarras, Lips na batera, Edu Lucena no baixo, Cláudia Lino nos vocais e eu nas guitarras. Era a primeira vez que a gente experimentava uma vocalista e a Cláudia se saiu muito bem no dueto de "Abre essas pernas pra mim" que era para ser feito com a Rita Lee.
A participação da Rita é um capítulo a parte. Ela veio, foi gentil, não cantou "Abre essas pernas" por motivos óbvios, mas cantou "Beijos de Corpo" que é um dos nossos hinos em show até hoje. Bebeu tequila com a gente e fumamos alguns baseados. A Rita contou histórias e ficou com a gente a tarde toda até que chegou o Roberto de Carvalho e acabou com a festa, levando-a embora. Foi um dia especial. Temos algumas lembranças, poucas fotos e ainda guardo a emoção daquele dia. Devemos isso a Rita Lee! Eternamente gratos.
Outro que tocou com a gente nesse disco foi o Roger do Ultraje. Lembro que ele sofria um bocado e ficava bastante nervoso em fazer as guitarras. Depois que ficou pronto relaxou e fez uns truques de mágica. Na época Serginho Petroni também estava no Ultraje e participou. Ambos em "A Mulher do diabo". Roger inclusive tocou no lançamento do disco no Olympia, uma casa de show muito legal que ficava na Pompéia.
O Sérgio Hinds, fundador dO Terço, tocou guitarra em "Pão Com Cerveja".
Outros músicos convidados foram:
Mário Ribeiro e Maurício Barcellos nos teclados.
Fabinho Haddad (que depois produziu alguns discos das Velhas) tocou guitarra em "A mulher do Diabo".
A criação do personagem do encarte é do Ale Montandon e a pintura do Cortez.
O título tem dois pontos de exclamação mesmo. Um exagero que na época fazia sentido e hoje não entendo o por quê daquilo.
Na produção das fotos tiradas por Marcelo Rossi tivemos ajuda de Renata Zulli com o figurino e de Wandinha na maquiagem da Cláudia Lino.
O Paulo Anhaia produziu e fez um pouco de tudo. Inclusive psicólogo. Uma habilidade muito importante pra um produtor é saber conduzir egos, ânimos e a agressividade de todos para tirar o melhor da banda. Quando se trata de criação as coisas podem fugir do controle. Pouco antes de gravar e durante as gravações sempre acho que vou matar alguém ou que a banda vai terminar. Fico tremendamente suscetível, ranzinza, nervoso, inseguro, enfim, fazer um trabalho novo é sempre um parto difícil.
Gravamos, gastamos mais tempo que o previsto e quando o Vitor Martins ouviu a mix final feita no estúdio 43, não gostou. Foi um choque tremendo. A mixagem era ótima. Então ele exigiu uma nova mixagem sob a supervisão de um gringo chamado Raymond Ward que depois virou nosso empresário e nos arrastou ladeira abaixo. Fodeu a banda de muitas maneiras que não convém falar.
A nova mix, também no 43, ficou "diferente" pra ser bem delicado. Encheram de ecos, teclados foram pra frente, muita voz e guitarras afundadas. Mas foi a mix que passou e me arrependo muito de não ter guardado a primeira mixagem. Quando fomos tentar refazer, as fitas estavam emboloradas e perdidas.
A música "Eu bebo sim" foi retirada do disco quando nós compramos a master da Velas. Um acordo com os parentes dos compositores que acharam que nós deturpamos a música brasileira, apesar de termos pago pelas autorizações e eles aceitado. Coisa da vida!
De qualquer maneira foi nosso disco que mais vendeu. Não tenho o número exato, o trabalho passou por muitas mudanças, mas com certeza foram mais de 200 mil cópias.
Esse disco esteve na Velas, depois foi para El Dorado e em 2003, arrumei uma pequena fortuna e comprei a máster para ficar na nossa gravadora Gabaju Records. A bagatela de 10 mil dólares. Coloquei o disco nas costas e sai vendendo feito um louco.
Ele é lançado em 1997, porém em 2001 um rapaz do site Vírgula ouve "Abre essas pernas" e mostra para Tutinha, então chefão da Jovem Pan. Ele gostou e colocou a música pra rolar. Ficamos entre as 20 mais pedidas e começamos a subri rapidamente. Foi um mês que achei que tinha conseguido algo grande. Então um juiz do Rio mandou duas liminares pra tirarem a música do ar. Mesmo assim ficamos conhecidos no país inteiro e começamos a fazer shows por todos os lugares.
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